quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre como seduzir


Como fazer com que alguém aprenda o que você tem para ensinar? Os métodos são variados, podemos falar tudo o que sabemos de maneira organizada, explicando, exemplificando, e, ao final, sanar as dúvidas, como é comum acontecer. Eu já tentei fazer assim, umas vezes por teimosia de seguir a tradição de como fui instruído, outras vezes por preguiça criativa/pedagógica ou até mesmo por ansiedade de dar conta do que propus-me a "ensinar", mas geralmente quando uso deste método, as vezes me frustro quando pergunto: "E aí, alguém tem alguma dúvida?..." e o silêncio paira no ar. Nunca consigo saber se todos entenderam tudo ou se não entenderam nada. Na verdade penso que é impossível não entender nada, e entender tudo-tudo é sempre duvidoso,  muitas vezes, a criança, o adolescente ou o adulto não pergunta porque não sabe perguntar, não consegue formular uma questão, pois na realidade a educação convencional não ensina a questionar, mas sim a  decorar, absorver tudo como uma esponja de maneira automática e a-crítica. Esta estrutura vertical pedagógica, produz o medo à pergunta, fruto de uma repressão no processo educativo bem discreta, e que acompanhará a pessoa para o resto de sua vida se esta não conseguir desconstruir este hábito forjado. Eu penso que a raiz da subordinação está na educação, que a gênese do "desequilíbrio" que o mundo vive é por conta deste fator, obviamente existem outros fatores, como o econômico, o político, o social, entre outros, mas friso que todos eles estão relacionado à educação, e que se o mundo quer ser mais justo essa lição têm que ser feita em sala de aula, em casa e nos demais ambientes educacionais, que se formos parar para pensar não têm fronteiras, pois o processo de aprender começa quando nascemos e só termina quando morremos. 
Na Oficina Sensibilizando o Olhar busco inverter como as coisas costumam ser, algumas vezes já entro perguntando o que eles querem aprender, muitas vezes dá certo, surgem coisas como: "Ah professor, eu queria saber fazer uma foto assim assado..." e daí a "aula" se desenrola de maneira fluida. Porém, nem sempre dá certo, e é sempre bom ter um programa na manga para nortear o processo, todavia, mesmo com conteúdo pré-determinado, pensar na maneira de como transmiti-lo é essencial, para não cair na chatice, no blah blah blah que o aluno não está interessado. Então o desafio é: como seduzir o aluno, como fazer com que ele crie interesse por uma coisa que ele nunca pensou em aprender. A primeira solução que tento criar é, perceber o aluno enquanto estou falando, como está seu  rosto, se ele olha para o lado, linguagem corporal de uma maneira geral. A segunda solução é criar um espaço horizontal, onde ele tenha "coragem" de interromper-me para questionar qualquer coisa a qualquer momento. Transformar a "aula" num ambiente agradável e descontraído é essencial para a liberdade e conseqüentemente, para o aprender.
A ludicidade é minha maior arma, é com ela que consigo seduzir, instigar o aluno a perguntar, como numa brincadeira de "light paint", onde o aluno vê e participa da produção, vê o resultado no visor e mesmo assim não consegue entender o como foi feito. Aí surge a dúvida, a porta de entrada para se explicar velocidade de obturador, entre outras coisas técnicas. A ludicidade, o encanto, são fundamentais.
Outro exemplo de ludicidade com crianças é utilizar bolhas de sabão, que é uma coisa que toda criança adora (e as vezes também os pré-adolescentes e até os adultos), a partir de uma brincadeira simples pode-se explicar foco, macro, etc.
Trabalhar em cima das perguntas é caminho que eu tento construir, pois simplesmente é o caminho que eu acredito ser eficaz para que o ser educado estenda essa cultura para sua vida, e possa vir a ser autônomo, a guiar sua aprendizagem. Mas como já disse, é um processo a se construir (juntos).

2 comentários:

  1. Pô Alan, muito bom seu texto e as idéias de como você põe em prática suas/nossas convicções pedagógicas.
    Muito bom!
    Abraço!
    Murilo.

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  2. Valeu Murilo, temos que criar e recriar a todo instante, né!

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