Olás,
Já faz um tempo que venho desenvolvendo Oficinas de Fotografia com públicos variados, até que hoje tive um insight de criar um blog para socializar um pouco das experiências artístico-pedagógicas, seja mostrando fotografias do processo de cada turma, levantando questões da prática, entre outros tipos de informação que eu julgue digno de escrever aqui para compartilhar.
Ensinar fotografia parece ser muito simples, basta explicar o funcionamento da máquina fotográfica, um pouco de fotometria, enquadramentos, luz e algumas outras "cositas más". Entretanto, é na simplicidade que reside toda a complexidade do "ensinar". Para começo de conversa, acho muito difícil "ensinar" alguém a algo, alguém só aprende se está em busca do que almeja, caso contrário, é inútil qualquer tipo de ação. Um autor que gosto muito, Roberto Freire, diz no livro do curso de Pedagogia Libertária que ele desenvolveu junto a Somaterapia, que, "Ensinar o que não foi perguntado, além de inútil, é um estupro cultural". Quando li isso pela primeira vez fiquei tão chocado com a força da expressão que nunca mais esqueci, na época eu lecionava História na Rede Pública de Ensino de São Paulo, e sem sombra de dúvidas, a carapuça serviu-me direitinho, eu com a maior das boas intenções estava sendo cruel com meus alunos, pois quem conhece a escola convencional sabe que existe um cronograma do que passar, tipo: ano X = Revolução Russa no primeiro semestre, Estado novo no segundo, e assim segue...ou seja, é o mesmo para todos, o conhecimento caí das alturas das convenções pedagógicas do Estado e esmaga o estudante que ou aprende ou é punido nas provas, enfim, passei-me a questionar de tal maneira que por respeito à Educação, aos alunos e à História, retirei-me deste sistema onde não conseguia me enquadrar. Daí então, passei a me dedicar a estudar Pedagogia (libertária) e Fotografia, até que, decidi bolar uma Oficina não para ensinar, e sim Sensibilizar os participantes, instiga-los a ver e pensar sob outros pontos de vistas, quando um aluno/professor está instigado, motivado, curioso,... é inevitável a aprendizagem, o processo torna-se natural e prazeroso, como todo tipo de aquisição do conhecimento deveria ser.
E foi assim que surgiu a Oficina de Fotografia "Sensibilizando O Olhar", onde a base é a Fotografia, questões técnica e estéticas, no entanto, faço uso de música, poesia, videos, as vezes até debato temas do cotidiano, como por exemplo: o meio ambiente, relacionando-a com a sujeira das cidades; violência, abuso de poder e direitos humanos; a desigualdade social, econômica e até mesmo política, enfim, pano pra manga é o que não falta, e quando tratamos de fotografia, sempre a conseguimos contemplar seja citando um poema de Paulo Leminski ou comentando a papagaiada que emissoras de televisão com seus "Datenas" jorram sobre os espectadores.
Como ensinar alguém a fotografar sem antes mesmo o fazer saber o que ele mesmo quer fotografar? Para que serve Iso, Diafragma e Obturador se eu nem sei ao certo porque estou apertando o botão? É por questões como essas que penso que "o ensinar a fotografar" tem que estar ligado ao que fotografar. Como é tão crucial como o porque. E é por isso que "tento" sensibilizar o fotógrafo em potencial, fazendo com que ele crie sua própria perspectiva do mundo, que faça de maneira consciente, apesar de muitas vezes tudo correr no âmbito da intuição.
Expressão, intuição, consciência e por último a técnica é que busco trabalhar em minha Oficina, até mesmo porque na maioria das turmas, elas são compostas por pré-adolescentes e se eu ficar falando só de abertura diafragma, de regra dos terças, etc., eles vão ficar dispersos, pensando em tudo, menos em criar fotografia.
Para concluir este post, quero frisar que o impulso em busca do conhecimento deve ser (penso eu) mais importante que o conhecimento em sí, deve ser estimulado, para seduzir o aluno a querer seguir a trilha de sua curiosidade. Assim penso e tento desenvolver meu trabalho, que é recriado e revisto a todo instante.

Foto realizada na Oficina em 2010, no Parque São Bernardo.
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