quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Poesia & Fotografia


Chegamos ao fim de 2011 e esta data não representa somente a despedida de uma turma participante da Oficina de Fotografia, mas também, de um final de ciclo de Oficinas realizadas no PIGD/Centro Comunitário do Parque São Bernardo. Foram três semestres de atividades ali realizadas, mais de 100 pré-adolescentes/adolescentes participantes, 5 exposições, 2 blogs, entre outros dados quantitativos. Porém, o que mais me deixou feliz foi o aumento qualitativo da coisa, da minha atividade como oficineiro, do envolvimento dos participantes e da comunidade com a Oficina. Enfim, podemos dizer que fechamos este ciclo com chave de ouro com a exposição "Poéticas Visuais", onde unimos palavra & imagem, num dialogo dialético onde a fotografia inspirava a poesia escrita através de palavras e as palavras inspiravam a poesia escrita através da luz.


O processo deste semestre de atividade foi bastante interessante, houveram "aulas" que mais se pareciam com sarau do que com propriamente com uma "aula". Confesso que a ideia de trabalhar sobre este eixo desta vez não foi uma proposta espontânea vinda do grupo como fizemos no outro semestre...Voltei do festival Parary em Foco sensibilizado com uma poética visual que quis de uma certa maneira explora-la mais, e daí surgiu a proposta dada às duas turmas do Pq. São Bernardo e que eles abraçaram. No entanto havia um probleminha, muitos dos educandos não sabiam bem o que era uma poesia, muito menos o que seria pensar, fotografar, ver poeticamente a vida, as coisas e os objetos.


O processo foi lento, comecei apresentando-os poesias, comentando sobre os diversos tipos de linguagens e narrativas. Vimos haicais, poesia concreta, sonetos, fomos para todos os lados e chegamos ao entendimento básico do que seria ser POÉTICO. Após este processo, o próximo passo foi trabalhar o OLHAR, descondicionar o certo e o errado. Um momento que achei bastante curioso aconteceu numa discussão onde uma adolescente criticou a outra enquanto esta estava fotografando formigas que estavam sobre cascas de laranjas que estavam jogadas no chão, a menina criticava a fotógrafa em ação dizendo que aquilo era inútil, bobo, etc. Deste fato rendeu material para trabalharmos sobre o que sensibilizava cada um para tirar uma foto - a motivação, daí, aos poucos fomos incluindo argumentos nas imagens, argumentos que muitas vezes eram mudos, mas que possuíam toda uma beleza e presença.


Desconstruir o certo e o errado, subverter regras em prol da expressão pessoal foi o norte do semestre, transmiti aos educandos várias toques de enquadramento, composição, luz, construímos todo um conhecimento que não SE TORNOU uma prisão e sim ASAS (pois é muito fácil cair na armadilha de só tirar fotografias técnicas)...

Sem sombra de dúvidas, acho que nestes semestres foram plantadas várias sementinhas criativas que já começaram a mostrar seus raminhos de vida. E eu - pessoa - oficineiro, fico extremamente realizado e feliz, pois assim como dizia Aristóteles, a felicidade está na ação (virtuosa) e não num estado como muitos pensam, saber que consegui atingir um fim, que na verdade é só um começo de um processo, me deixa inteiramente Feliz. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Veja que legal!


Dia desses, uma amiga que é bastante envolvida com a questão dos Direitos Humanos enviou-me um link sobre uma tal Concurso de Fotografias sobre o tema. Sem pretensão nenhuma, conversei com o adolescentes em enviarmos algumas fotos que eles estavam produzindo no momento, minha intensão era mais incentiva-los pedagogicamente do que outra coisa... e por inúmeros fatores, entre eles, o de os adolescentes do Parque São Bernardo não ter acesso fácil acesso internet, acabou que a proposta caiu no esquecimento. Fiquei triste com o fato, principalmente por constatar um certo grau de analfabetismo digital e não poder fazer muita coisa pra mudar a situação. Entretanto, nos 45 do segundo tempo, decidi inscrever três fotos COLETIVAS realizadas na oficina de 2010, é para a minha surpresa, GANHAMOS o primeiro prêmio do CLICK DIREITO e a foto está participando da 2ª Mostra Itinerante de Fotografias em Direitos Humanos organizada pelo Observatório de Educação em Direitos Humanos da UNESP. Prêmio (físico) ganhamos o livro "Imagens do Brasil", mas o que valeu mesmo foi a notícia, e como ela serviu para trabalhar a auto-estima dos adolescentes que agora já vislumbram outros prêmios. E que venham outros prêmios e reconhecimentos, o trabalho não para.

Clique no link e veja as fotos que compõe a 2ª Mostra Itinerante de Fotografias em Direitos Humanos,

e para ler sobre o processo de produção e criação da foto ganhadora, clique aqui.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobre Responsabilidade(s)

Turminha da "pesada" do Pq. São Bernardo (Tarde) 1º sem. 2011.
Responsabilidade, palavra forte né! Acho que muitos que já passaram pela adolescência ouviram muito essa palavrinha nos sermões dos adultos que queriam nosso bem, estes podem até torcer o nariz para ela, mas não há como fugir dessa palavrinha que define uma qualidade que acompanha-nos e nos acompanhará em todos os nossos passos, até os derradeiros momentos de nossas existências.
Brincando & Aprendendo
Derivada do latim (responsabilitate), ser responsável designa ser hábil a responder por alguma coisa, à "obrigação a responder por certos atos próprios ou alheios ou por alguma coisa que lhe foi confiada".  Portanto, esta postura diante da vida deve ser assumida em todos os âmbitos, do circulo de amizades ao meio ambiente, na política do cotidiano - no trabalho, na escola, etc. E era aqui que eu queria chegar! Na responsabilidade do educador que transmite - ou facilita o caminho ao - conhecimento, na ética que este individuo deve ter em relação aos seus educandos. Sinceramente, estou cansado de ver muitos se omitirem, de encontrar diversas desculpas para diversas situações, tornando-se hipócritas, cito o jornalismo que inventa o sensacionalismo, o pai ausente, o político que está interessado em apenas representar a sí próprio, as universidade mundo afora que vendem diplomas, o coordenador pedagógico que culpa a burocracia e não resolve problemas que poderiam ser resolvidos se encarados com coragem, enfim, as situações são diversas. 
Todavia, minha intenção com essa reflexão é olhar para minha postura quanto educador, assumir minha bronca, estar consciente do meu papel e dividir isso com quem quer que seja que irá ler este post. Acredito que, um educador têm tanta responsabilidade quanto um médico, ou um engenheiro, ou um arquiteto... Já vi muitos "professores" que encaravam dar aula como apenas um ganha pão, que dão aulas medíocres, e já está. Como diria um chavão de algum programa humorístico "É por isso que o Brasil não vai pra frente". 
Refletindo sobre minha responsabilidade, tento dar o melhor de mim, mesmo as vezes nem sendo recompensado financeiramente para isso, mas se assumi a bronca, tenho que fazer ganhando 10, 100 ou 1000, e não buscar hetero-desculpas, seja elas problemas familiares, financeiras, etc. Pois afinal, que que têm a haver o Zézinho se eu estou duro ou sem tempo de preparar a aula, porque é que vou punir um outro ser por um problema que é meu. Tá! Vivemos em rede, em sociedade, estamos todos ligados, mas penso ser muita covardia entregar o peso da cruz a outra pessoa que não cometeu nenhum pecado (ps. isso aqui é só uma metáfora, hein!, tô fora de compactuar com essa visão de mundo cheia de pecados!).
Crianças do PIGD - Pq. São Bernando / 1º sem. 2011.
Repetindo-me, um educador têm tanto poder na mão quanto uma pessoa com um arma de fogo carregada, pois é capaz de destruir sonhos, vidas. E está cheio de gente aí cometendo genocidios intelectuais. Desestimular alguém a algo, na minha concepção, é até mais grave que vários moralismos da nossa sociedade. Trocando em miúdos, ser educador é ser responsável por vidas, pelo futuro, e não consigo admitir qualquer alguém que esteja na área e não esteja dando seu máximo. Tá cansado? Vai pro comércio, pois alias, vai acabar ganhando bem melhor que trabalhar na educação...Falando em comércio, está aí outra área que não têm responsabilidade nenhuma com mundo, mas aí já é outro âmbito, e é melhor nos atermos somente a este - ao menos neste post. 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Processos & Identidades


Exercitando o olhar (exposição)

O Primeiro semestre de 2011 foi bastante produtivo para "educandos" da Oficina de Fotografia "Sensibilizando O Olhar", conseguimos trabalhar de maneira dinâmica e com um saldo de aprendizagem bem interessante. Realizamos duas mostras coletivas e diversos "projetinhos" ao longo dos seis meses (a exposição Exercitando o olhar é um compilado desses diversos "projetinhos").

A grande lição para mim - quanto arte-educador, foi que cada turma têm seu ritmo, e este, por sua vez têm que ser respeitado com muito carinho. Esta era uma lição que eu já tinha vivenciado em outras práticas como educador, entretanto, nunca ficou tão evidente como nos "produtos finais" de cada turma do Projeto Usina Sócio-Educativa: Rádio, Cine e Foto, Difusão de Tecnologia, Cultura e Direitos Humanos para Crianças e Adolescentes, onde o mesmo tema foi abordado por ângulos diferentes.

Exercitando o olhar (exposição)
Como trabalhamos com "educandos" em situação de vulnerabilidade social, batemos sempre na tecla da Cidadania com eles, para incentivar o desenvolvimento de consciências críticas. Neste semestre que passou, tive a ideia de trabalhar o tema IDENTIDADE com as duas turmas, mesclando discussões sobre o tema com aulas práticas e teóricas de Fotografia. 
Partindo do pressuposto que, um individuo que não compreende bem sua Identidade, não consegue ordenar sua cidadania de maneira positiva, negligenciando sua função social. Posso dar o exemplo mais obvio disto que estou falando que é o ato de exercer os direitos políticos contra sí mesmo ao votar num candidato que não defende os interesses do grupo social/classe ao qual o "cidadão" pertence,...entretanto, este exemplo também é material que usamos como fonte para outros questionamentos com os "educandos", afinal essa ideia de exercer a cidadania somente nas eleições é bastante errônea e deve ser questionada. Em suma, Cidadania, Direitos Humanos e Identidade estão intimamente relacionados e é um rico âmbito a ser lapidado e que dá muito pano pra manga.

Povo da Periferia (exposição)
Voltando a questão que iniciei este post, cada turma têm seu ritmo. Tentei trabalhar o mesmo conteúdo com as duas turmas, até que o desenrolar das discussões levaram cada turma para caminhos diferentes, enquanto uma das turmas conseguiu logo de cara escolher uma música que representasse todo o grupo (proposta dado por mim/educador), o outro grupo patinou bastante nesta escolha da música, o que não acho que foi negativo, pois rendeu bastante material para discussões. Este segundo grupo, insistia em escolher músicas que não estavam de acordo com o tema e não conseguiam argumentar a escolha de tais (argumentar a escolha também fazia parte da atividade)...para aclarear ao leitor que lê este post, esta segunda turma insistia em escolher músicas "pesadas", com um alto teor de violência e/ou sexualismo de baixo calão, infelizmente neste segundo caso, tive que intervir com "jeitinho".
Não cabe a mim comparar como cada grupo se saiu, taxando o melhor e o pior, pois cada um teve um PROCESSO distinto e rico. Somente estou compartilhando informações dos processos, pois acredito que pode ser útil para alguma reflexão de outrem.

Povo da Periferia (exposição)

A turma da tarde escolheu a música "Povo da Periferia" de Ndee Naldinho para trabalhar, foi uma escolha "rápida", realizada em duas aulas, depois de algumas discussões, o grupo que havia selecionado 5 músicas, entrou em consenso ao argumentar que a música de Ndee Naldinho representava seus questionamentos.
O perfil da turma da tarde é o perfil de um grupo maduro, que consegue desenvolver debates e discussões bastante aprofundadas e interessantes, foi muito rico o processo de escolher, debater, entrar em consenso e sair às ruas para produzir. O Resultado foi uma série das 20 melhores fotografias (impressas para serem expostas) e um video com uma edição com um número de fotos maior. Veja o vídeo abaixo:


Já a segunda Turma, composta quase que exclusivamente por pré-adolescentes, demorou mais de um mês para escolher algumas músicas e não conseguiram entrar em consenso em uma única música. Infelizmente, eu tive que censurar algumas de suas escolhas, pois simplesmente, algumas das canções tinham refrões como: "Vamos matar policia, matar policia, matar policia" ou citações pornográficas que não correspondiam as idades, entretanto, por mais que minha atitude por um lado foi "moralista", foi também positiva pois discutia e argumentava com eles o porquê tal música não poderia ser utilizada. Entretanto, não tenho dúvidas, que mesmo estas músicas consideradas improprias para pré-adolescentes, dizem muito respeito a Identidade deles.
Todo o processo durou mais de dois meses, e quando comecei a perceber que a turma não conseguiria escolher uma música, tive a ideia de mostrar uma canção de Erasmo Carlos: "Ilegal, Imoral ou Ingorda" que de certa maneira tinha a haver com toda a discussão que havíamos realizado, para minha surpresa, o grupo adorou a música e fizemos o seguinte video:


Para mim, enquanto educador, como já mencionei no começo deste post, estes processos me fizeram reafirmar que cada Turma têm seu tempo, seu desenvolvimento e de que temos que ter jogo de cintura para trabalhar com cada uma de maneira especifica. Ficar engessado a um cronograma, ou aos resultados finais do processo, é uma maneira mecanicista e não muito inteligente de se trabalhar, pois vejo o processo pedagógico como a parte mais rica do todo. Infelizmente, muitos coordenadores, diretores e professores mundo afora cobram resultados de maneira cega, vi muito isso quando era professor de História na rede pública de ensino, onde todas as turmas tinham o mesmo conteúdo, as provas que cobravam mais do que deveriam dos alunos, e estes, que muitas vezes (inocentemente) acabavam sendo punidos por incompetências dos profissionais da educação que não refletiam sobre suas práticas e queriam de todas as maneiras impor ritmos sem respeitar os ritmos.
Cada turma têm um ritmo, assim como cada ser também o têm. Creio que devemos ter sensibilidade para cada particularidade, e tomar sempre muito cuidado com as ansiedades e os egos daqueles que querem ver resultados rápidos e como uma qualidade X, sem prestar atenção no Processo.

domingo, 19 de junho de 2011

O pensar - Meio Ambiente


Foi nos "encomendado" uma exposição sobre o Meio Ambiente por causa do Mês de Junho, que é o mês do Meio Ambiente. Sinceramente, eu achei bárbaro o tema, pois é um assunto que dá para trabalhar bem, pois sempre noto que as crianças e os adolescentes carregam na ponta da língua uma opinião sobre o tema. Após conversarmos bastante, chegamos a conclusão (juntos) de que nada adiantava fotografar apenas coisas bonitas, como por exemplo um plano fechado de flores (fotos abaixo - que compõem a exposição).


Então, a ideia da turma foi mesclar fotos "do Bonito" com fotos "do Feio" do Meio Ambiente que os cercam, eu achei curioso esta construção de pensamento, por permear o campo da estética em se tratando de Meio Ambiente. Assim que fui percebendo as ideias vindo deles, fiz um papel de jogar lenha na fogueira, levando esse debate para outros lados também, como a questão do consumismo, a questão da insalubridade local, entre outras questões.


Percebi que alguns deles tinham uma certa ânsia para denunciar tudo, o cotidiano, enquanto outros brincavam  com o tema de maneira criativa, tudo isso resultou numa exposição rica em imagens que constatam e contrastam a realidade do Parque São Bernardo.


Seja fotografando "o Feio ou o Bonito" as crianças e adolescentes conseguiram atingir minha meta (de arte-educador) que não era "fazer uma bela exposição de fotografias" e sim faze-los APRENDER brincando, se divertindo, pensando,... boas fotos são consequência do processo. Tanto se aprende levantando a câmera para o céu e tendo que descobrir como resolver a questão do contra-luz como enquadrando uma poça de água de esgoto ou até mesmo descobrindo o efeito do "flare". A ideia é experimentar, fazer para aprender.


O resultado não poderia ter sido melhor! Sob uma perspectiva lúdica e "consciente", as crianças e os adolescentes do Parque São Bernardo fazem Arte.

terça-feira, 31 de maio de 2011

"O Nosso Meio Ambiente"


A exposição “O Nosso Meio Ambiente” revela o olhar sincero e crítico das duas turmas da Oficina de Fotografia do Projeto Rádio, Cine e Foto, Difusão de Direitos Humanos e Tecnologia. Através de 30 fotografias os adolescentes escrevem com luz o que entendem por Meio Ambiente, focando desde a estonteante macro-beleza de uma flor à um olhar fotojornalístico do bairro onde vivem.

domingo, 22 de maio de 2011

O Blog CIDADANIA e FOTO


Utilizando de meta linguagem, neste post quero apresentar o BLOG d@s Alun@s das turmas de Fotografia do Pq. São Bernardo, um espaço onde eles mesmos postam suas fotos, escrevem sobre suas atividades e desta maneira, vão registrando o andamento da Oficina.

A idéia do BLOG não foi espontânea (adoraria que tivesse sido! mas...), foi uma proposta apresentada por mim e logo aceita por eles, também pudera, pois a maioria deles nem mesmo sabiam o que era um Blog, quanto mais saber criar um. E foi por esse motivo mesmo que sugeri a eles que criassem um Espaço virtual deles, para "forçar" que fucem e desenvolvam-se. E vêm dando certo, os textos estão cada vez melhores e está existindo uma alimentação de conteúdo constante. Penso que é muito importante aproxima-los do mundo Virtual, coisa que pelas condições econômicas da maior parte deles não acontece - a maioria não tem acesso em casa à internet, portanto, essa "brincadeira" é uma ação de Inclusão Digital. Acessem lá, comentem, incentivem. http://cidadaniaefoto.blogspot.com

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre como seduzir


Como fazer com que alguém aprenda o que você tem para ensinar? Os métodos são variados, podemos falar tudo o que sabemos de maneira organizada, explicando, exemplificando, e, ao final, sanar as dúvidas, como é comum acontecer. Eu já tentei fazer assim, umas vezes por teimosia de seguir a tradição de como fui instruído, outras vezes por preguiça criativa/pedagógica ou até mesmo por ansiedade de dar conta do que propus-me a "ensinar", mas geralmente quando uso deste método, as vezes me frustro quando pergunto: "E aí, alguém tem alguma dúvida?..." e o silêncio paira no ar. Nunca consigo saber se todos entenderam tudo ou se não entenderam nada. Na verdade penso que é impossível não entender nada, e entender tudo-tudo é sempre duvidoso,  muitas vezes, a criança, o adolescente ou o adulto não pergunta porque não sabe perguntar, não consegue formular uma questão, pois na realidade a educação convencional não ensina a questionar, mas sim a  decorar, absorver tudo como uma esponja de maneira automática e a-crítica. Esta estrutura vertical pedagógica, produz o medo à pergunta, fruto de uma repressão no processo educativo bem discreta, e que acompanhará a pessoa para o resto de sua vida se esta não conseguir desconstruir este hábito forjado. Eu penso que a raiz da subordinação está na educação, que a gênese do "desequilíbrio" que o mundo vive é por conta deste fator, obviamente existem outros fatores, como o econômico, o político, o social, entre outros, mas friso que todos eles estão relacionado à educação, e que se o mundo quer ser mais justo essa lição têm que ser feita em sala de aula, em casa e nos demais ambientes educacionais, que se formos parar para pensar não têm fronteiras, pois o processo de aprender começa quando nascemos e só termina quando morremos. 
Na Oficina Sensibilizando o Olhar busco inverter como as coisas costumam ser, algumas vezes já entro perguntando o que eles querem aprender, muitas vezes dá certo, surgem coisas como: "Ah professor, eu queria saber fazer uma foto assim assado..." e daí a "aula" se desenrola de maneira fluida. Porém, nem sempre dá certo, e é sempre bom ter um programa na manga para nortear o processo, todavia, mesmo com conteúdo pré-determinado, pensar na maneira de como transmiti-lo é essencial, para não cair na chatice, no blah blah blah que o aluno não está interessado. Então o desafio é: como seduzir o aluno, como fazer com que ele crie interesse por uma coisa que ele nunca pensou em aprender. A primeira solução que tento criar é, perceber o aluno enquanto estou falando, como está seu  rosto, se ele olha para o lado, linguagem corporal de uma maneira geral. A segunda solução é criar um espaço horizontal, onde ele tenha "coragem" de interromper-me para questionar qualquer coisa a qualquer momento. Transformar a "aula" num ambiente agradável e descontraído é essencial para a liberdade e conseqüentemente, para o aprender.
A ludicidade é minha maior arma, é com ela que consigo seduzir, instigar o aluno a perguntar, como numa brincadeira de "light paint", onde o aluno vê e participa da produção, vê o resultado no visor e mesmo assim não consegue entender o como foi feito. Aí surge a dúvida, a porta de entrada para se explicar velocidade de obturador, entre outras coisas técnicas. A ludicidade, o encanto, são fundamentais.
Outro exemplo de ludicidade com crianças é utilizar bolhas de sabão, que é uma coisa que toda criança adora (e as vezes também os pré-adolescentes e até os adultos), a partir de uma brincadeira simples pode-se explicar foco, macro, etc.
Trabalhar em cima das perguntas é caminho que eu tento construir, pois simplesmente é o caminho que eu acredito ser eficaz para que o ser educado estenda essa cultura para sua vida, e possa vir a ser autônomo, a guiar sua aprendizagem. Mas como já disse, é um processo a se construir (juntos).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Série Imagin-ações

Quando vi pela primeira vez a série "Dreams Of Flying" do fotógrafo alemão Jon Von Holleben achei fantástica a simplicidade criativa que ele utilizou para retratar situações mágicas, dignas da mente de uma criança. A partir dessa "inspiração", decidi utilizar a mesma técnica com os pré-adolescentes e adolescentes das duas turmas do Pq. São Bernardo de 2010, abordando como eixo temático o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, a partir dessa deixa, discutimos o Direito à Educação, Moradia, Saúde, entre outros previstos no ECA e na Constituição brasileira, apesar de ser aparentemente um papo "chato" para garotos e garotas de idade média de 14 anos, as turmas se interessaram bastante por poder discutir o cotidiano ao qual estão inseridos, a partir destes pontos discutimos a "exclusão" cultural, a falta de saneamento, entre outras questões que os próprios alunos faziam questão de levantar. Pós-discussões, pedi para que eles desenhassem situações em folhas de papel, a partir disso consegui faze-los compreender o desenho em 1, 2 e 3 dimensões e a relação com a fotografia bi-dimensional, após este processo pedagógico  escolhemos os "melhores" desenhos para reproduzirmos e fotografar, e o resultado pode ser visto aqui abaixo, no total, expomos uma série de 20 fotografias na Mostra Cultural que fechou o ano de 2010.




Vale dizer também que, a idéia de produzir tais fotos surgiu da carência de máquinas fotográficas que tínhamos para trabalhar, foi um semestre todo onde eu emprestava uma reflex para as crianças, concerteza se tivessemos o equipamento necessário para todos na época, as fotos teriam seguido outros rumos, mas é assim que é, temos que tirar leite de pedra as vezes. E não reclamo, pois temos que saber fazer das adversidades nossa matéria prima para criar e "educar".


Apresentando-me!

Olás,

Já faz um tempo que venho desenvolvendo Oficinas de Fotografia com públicos variados, até que hoje tive um insight de criar um blog para socializar um pouco das experiências artístico-pedagógicas, seja mostrando fotografias do processo de cada turma, levantando questões da prática, entre outros tipos de informação que eu julgue digno de escrever aqui para compartilhar.

Ensinar fotografia parece ser muito simples, basta explicar o funcionamento da máquina fotográfica, um pouco de fotometria, enquadramentos, luz e algumas outras "cositas más". Entretanto, é na simplicidade que reside toda a complexidade do "ensinar". Para começo de conversa, acho muito difícil "ensinar" alguém a algo, alguém só aprende se está em busca do que almeja, caso contrário, é inútil qualquer tipo de ação. Um autor que gosto muito, Roberto Freire, diz no livro do curso de Pedagogia Libertária que ele desenvolveu junto a Somaterapia, que, "Ensinar o que não foi perguntado, além de inútil, é um estupro cultural". Quando li isso pela primeira vez fiquei tão chocado com a força da expressão que nunca mais esqueci, na época eu lecionava História na Rede Pública de Ensino de São Paulo, e sem sombra de dúvidas, a carapuça serviu-me direitinho, eu com a maior das boas intenções estava sendo cruel com meus alunos, pois quem conhece a escola convencional sabe que existe um cronograma do que passar, tipo: ano X = Revolução Russa no primeiro semestre, Estado novo no segundo, e assim segue...ou seja, é o mesmo para todos, o conhecimento caí das alturas das convenções pedagógicas do Estado e esmaga o estudante que ou aprende ou é punido nas provas, enfim, passei-me a questionar de tal maneira que por respeito à Educação, aos alunos e à História, retirei-me deste sistema onde não conseguia me enquadrar. Daí então, passei a me dedicar a estudar Pedagogia (libertária) e Fotografia, até que, decidi bolar uma Oficina não para ensinar, e sim Sensibilizar os participantes, instiga-los a ver e pensar sob outros pontos de vistas, quando um aluno/professor está instigado, motivado, curioso,... é inevitável a aprendizagem, o processo torna-se natural e prazeroso, como todo tipo de aquisição do conhecimento deveria ser.

E foi assim que surgiu a Oficina de Fotografia "Sensibilizando O Olhar", onde a base é a Fotografia, questões técnica e estéticas, no entanto, faço uso de música, poesia, videos, as vezes até debato temas do cotidiano, como por exemplo: o meio ambiente, relacionando-a com a sujeira das cidades; violência, abuso de poder e direitos humanos; a desigualdade social, econômica e até mesmo política, enfim, pano pra manga é o que não falta, e quando tratamos de fotografia, sempre a conseguimos contemplar seja citando um poema de Paulo Leminski ou comentando a papagaiada que emissoras de televisão com seus "Datenas" jorram sobre os espectadores.

Como ensinar alguém a fotografar sem antes mesmo o fazer saber o que ele mesmo quer fotografar? Para que serve Iso, Diafragma e Obturador se eu nem sei ao certo porque estou apertando o botão? É por questões como essas que penso que "o ensinar a fotografar" tem que estar ligado ao que fotografar. Como é tão crucial como o porque. E é por isso que "tento" sensibilizar o fotógrafo em potencial, fazendo com que ele crie sua própria perspectiva do mundo, que faça de maneira consciente, apesar de muitas vezes tudo correr no âmbito da intuição.

Expressão, intuição, consciência e por último a técnica é que busco trabalhar em minha Oficina, até mesmo porque na maioria das turmas, elas são compostas por pré-adolescentes e se eu ficar falando só de abertura diafragma, de regra dos terças, etc., eles vão ficar dispersos, pensando em tudo, menos em criar fotografia.

Para concluir este post, quero frisar que o impulso em busca do conhecimento deve ser (penso eu) mais importante que o conhecimento em sí, deve ser estimulado, para seduzir o aluno a querer seguir a trilha de sua curiosidade. Assim penso e tento desenvolver meu trabalho, que é recriado e revisto a todo instante.

 

Foto realizada na Oficina em 2010, no Parque São Bernardo.