Chegamos ao fim de 2011 e esta data não representa somente a despedida de uma turma participante da Oficina de Fotografia, mas também, de um final de ciclo de Oficinas realizadas no PIGD/Centro Comunitário do Parque São Bernardo. Foram três semestres de atividades ali realizadas, mais de 100 pré-adolescentes/adolescentes participantes, 5 exposições, 2 blogs, entre outros dados quantitativos. Porém, o que mais me deixou feliz foi o aumento qualitativo da coisa, da minha atividade como oficineiro, do envolvimento dos participantes e da comunidade com a Oficina. Enfim, podemos dizer que fechamos este ciclo com chave de ouro com a exposição "Poéticas Visuais", onde unimos palavra & imagem, num dialogo dialético onde a fotografia inspirava a poesia escrita através de palavras e as palavras inspiravam a poesia escrita através da luz.
O processo deste semestre de atividade foi bastante interessante, houveram "aulas" que mais se pareciam com sarau do que com propriamente com uma "aula". Confesso que a ideia de trabalhar sobre este eixo desta vez não foi uma proposta espontânea vinda do grupo como fizemos no outro semestre...Voltei do festival Parary em Foco sensibilizado com uma poética visual que quis de uma certa maneira explora-la mais, e daí surgiu a proposta dada às duas turmas do Pq. São Bernardo e que eles abraçaram. No entanto havia um probleminha, muitos dos educandos não sabiam bem o que era uma poesia, muito menos o que seria pensar, fotografar, ver poeticamente a vida, as coisas e os objetos.

O processo foi lento, comecei apresentando-os poesias, comentando sobre os diversos tipos de linguagens e narrativas. Vimos haicais, poesia concreta, sonetos, fomos para todos os lados e chegamos ao entendimento básico do que seria ser POÉTICO. Após este processo, o próximo passo foi trabalhar o OLHAR, descondicionar o certo e o errado. Um momento que achei bastante curioso aconteceu numa discussão onde uma adolescente criticou a outra enquanto esta estava fotografando formigas que estavam sobre cascas de laranjas que estavam jogadas no chão, a menina criticava a fotógrafa em ação dizendo que aquilo era inútil, bobo, etc. Deste fato rendeu material para trabalharmos sobre o que sensibilizava cada um para tirar uma foto - a motivação, daí, aos poucos fomos incluindo argumentos nas imagens, argumentos que muitas vezes eram mudos, mas que possuíam toda uma beleza e presença.
Desconstruir o certo e o errado, subverter regras em prol da expressão pessoal foi o norte do semestre, transmiti aos educandos várias toques de enquadramento, composição, luz, construímos todo um conhecimento que não SE TORNOU uma prisão e sim ASAS (pois é muito fácil cair na armadilha de só tirar fotografias técnicas)...
Sem sombra de dúvidas, acho que nestes semestres foram plantadas várias sementinhas criativas que já começaram a mostrar seus raminhos de vida. E eu - pessoa - oficineiro, fico extremamente realizado e feliz, pois assim como dizia Aristóteles, a felicidade está na ação (virtuosa) e não num estado como muitos pensam, saber que consegui atingir um fim, que na verdade é só um começo de um processo, me deixa inteiramente Feliz.