terça-feira, 7 de agosto de 2012

Novas Identidades - "Sua Cultura, Nossa Cara"

Quando dizemos que somos brasileiros, o que queremos dizer com isso?

Foi partindo desta simples pergunta que trabalhamos o conceito de IDENTIDADE nas oficinas ao longo do primeiro semestre de 2012. Tive esta ideia pois gostaria de desenvolver melhor a relação entre a fotografia e as ciências humanas, que comecei a trabalhar com outra turma no Parque São Bernardo em 2011, (existe um post neste blog falando sobre esta experiencia - clique aqui para ler). Desta vez, tentei mesclar técnica fotográfica - da fotometria à composição, com mini debates e conversas abertas sobre História do Brasil, enfocando aspectos da antropologia, da sociologia, da economia e da geografia. Utilizamos bastante o documentário "O Povo Brasileiro" de Isa Grinspum Ferraz, que é baseado no estudo de Darcy Ribeiro sobre a formação dos "Brasis".


Neste semestre, tive a oportunidade de trabalhar com duas (outras) comunidades, o bairro Santa Cruz, localizado numa região rural em São Bernardo do Campo, e o bairro Inamar, localizado na cidade de Diadema, ambas comunidades periféricas.
Diante destas realidades, encontrei uma bela oportunidade de testar e comparar a oficina de fotografia sendo executada em diferentes realidades. No “Santa”, a turma era composta por adolescentes que já frequentavam as atividades do PIGD (espécie de local para atividades recreativas). Já no “Inamar”, as turmas eram mais maduras e estavam ali somente para as atividades de Fotografia, que compunham a grade de cursos livres do Centro Cultural Inamar. Diante da tamanha disparidade das turmas e objetivos dos seus participantes, encontrei um excelente laboratório pedagógico para trabalhar.


Como já era de se esperar, as discussões com a turma do “Santa” foram mais superficiais, por conta do perfil dos “alunos” - mais novos, entretanto, estas discussões eram sempre interessantes, e até mesmo, mais imagéticas. Enquanto que no Centro Cultural Inamar, quando discutiamos “a formação do povo brasileiro”, questões como racismo e desigualdades emergiam com frequência.  


O resultado das duas experiências foram  transformadas nas exposições “Da Balsa Pra Cá” dos adolescentes do bairro Santa Cruz e “DiverCidade” dos alunos do Centro Cultural Inamar. Cada uma retratando sua identidade local.
Colocando lado a lado os dois trabalhos, chegamos a duas respostas muitos próximas do questionamento proposto. E a conclusão disto, é a mesma de Darcy Ribeiro em seu livro, de que existem vários "brasis" e que ser brasileiro é ser plural, é ser ser negro, branco, mestiço, migrante, imigrante...  Esta constatação, apesar de parecer chover no molhado, é de grande valia na construção da identidade dos participantes. Percebi que tornaram-se mais conscientes com as diferenças entre eles mesmos, algumas “piadinhas” racistas e homofóbicas - comuns entre adolescentes - passaram a ser censuradas por eles mesmos.


Tentar construir essa noção de nação múltipla, é uma busca pela auto-aceitação através da consciência crítica, é uma tentativa de ir na contramão dos padrões convencionados pelo mercado, pela televisão, por essa falsa construção do real onde os “bonitinhos e bonitinhas” das propagandas são sempre brancos, magros e da classe média. A própria fotografia é umas das culpadas pela disseminação de um ideia de beleza "europeia e anorexa".
O projeto "Sua Cara, Nossa Cultura", não têm pretensões de divulgar UM nacionalismo, até mesmo porque vimos que somos PLURAIS. Nossa proposta é discutir o que somos e porque somos.