![]() |
Exercitando o olhar (exposição) |
O Primeiro semestre de 2011 foi bastante produtivo para "educandos" da Oficina de Fotografia "Sensibilizando O Olhar", conseguimos trabalhar de maneira dinâmica e com um saldo de aprendizagem bem interessante. Realizamos duas mostras coletivas e diversos "projetinhos" ao longo dos seis meses (a exposição Exercitando o olhar é um compilado desses diversos "projetinhos").
A grande lição para mim - quanto arte-educador, foi que cada turma têm seu ritmo, e este, por sua vez têm que ser respeitado com muito carinho. Esta era uma lição que eu já tinha vivenciado em outras práticas como educador, entretanto, nunca ficou tão evidente como nos "produtos finais" de cada turma do Projeto Usina Sócio-Educativa: Rádio, Cine e Foto, Difusão de Tecnologia, Cultura e Direitos Humanos para Crianças e Adolescentes, onde o mesmo tema foi abordado por ângulos diferentes.
![]() |
Exercitando o olhar (exposição) |
Como trabalhamos com "educandos" em situação de vulnerabilidade social, batemos sempre na tecla da Cidadania com eles, para incentivar o desenvolvimento de consciências críticas. Neste semestre que passou, tive a ideia de trabalhar o tema IDENTIDADE com as duas turmas, mesclando discussões sobre o tema com aulas práticas e teóricas de Fotografia.
Partindo do pressuposto que, um individuo que não compreende bem sua Identidade, não consegue ordenar sua cidadania de maneira positiva, negligenciando sua função social. Posso dar o exemplo mais obvio disto que estou falando que é o ato de exercer os direitos políticos contra sí mesmo ao votar num candidato que não defende os interesses do grupo social/classe ao qual o "cidadão" pertence,...entretanto, este exemplo também é material que usamos como fonte para outros questionamentos com os "educandos", afinal essa ideia de exercer a cidadania somente nas eleições é bastante errônea e deve ser questionada. Em suma, Cidadania, Direitos Humanos e Identidade estão intimamente relacionados e é um rico âmbito a ser lapidado e que dá muito pano pra manga.
Povo da Periferia (exposição) |
Voltando a questão que iniciei este post, cada turma têm seu ritmo. Tentei trabalhar o mesmo conteúdo com as duas turmas, até que o desenrolar das discussões levaram cada turma para caminhos diferentes, enquanto uma das turmas conseguiu logo de cara escolher uma música que representasse todo o grupo (proposta dado por mim/educador), o outro grupo patinou bastante nesta escolha da música, o que não acho que foi negativo, pois rendeu bastante material para discussões. Este segundo grupo, insistia em escolher músicas que não estavam de acordo com o tema e não conseguiam argumentar a escolha de tais (argumentar a escolha também fazia parte da atividade)...para aclarear ao leitor que lê este post, esta segunda turma insistia em escolher músicas "pesadas", com um alto teor de violência e/ou sexualismo de baixo calão, infelizmente neste segundo caso, tive que intervir com "jeitinho".
Não cabe a mim comparar como cada grupo se saiu, taxando o melhor e o pior, pois cada um teve um PROCESSO distinto e rico. Somente estou compartilhando informações dos processos, pois acredito que pode ser útil para alguma reflexão de outrem.
A turma da tarde escolheu a música "Povo da Periferia" de Ndee Naldinho para trabalhar, foi uma escolha "rápida", realizada em duas aulas, depois de algumas discussões, o grupo que havia selecionado 5 músicas, entrou em consenso ao argumentar que a música de Ndee Naldinho representava seus questionamentos.
O perfil da turma da tarde é o perfil de um grupo maduro, que consegue desenvolver debates e discussões bastante aprofundadas e interessantes, foi muito rico o processo de escolher, debater, entrar em consenso e sair às ruas para produzir. O Resultado foi uma série das 20 melhores fotografias (impressas para serem expostas) e um video com uma edição com um número de fotos maior. Veja o vídeo abaixo:
Já a segunda Turma, composta quase que exclusivamente por pré-adolescentes, demorou mais de um mês para escolher algumas músicas e não conseguiram entrar em consenso em uma única música. Infelizmente, eu tive que censurar algumas de suas escolhas, pois simplesmente, algumas das canções tinham refrões como: "Vamos matar policia, matar policia, matar policia" ou citações pornográficas que não correspondiam as idades, entretanto, por mais que minha atitude por um lado foi "moralista", foi também positiva pois discutia e argumentava com eles o porquê tal música não poderia ser utilizada. Entretanto, não tenho dúvidas, que mesmo estas músicas consideradas improprias para pré-adolescentes, dizem muito respeito a Identidade deles.
Todo o processo durou mais de dois meses, e quando comecei a perceber que a turma não conseguiria escolher uma música, tive a ideia de mostrar uma canção de Erasmo Carlos: "Ilegal, Imoral ou Ingorda" que de certa maneira tinha a haver com toda a discussão que havíamos realizado, para minha surpresa, o grupo adorou a música e fizemos o seguinte video:
Para mim, enquanto educador, como já mencionei no começo deste post, estes processos me fizeram reafirmar que cada Turma têm seu tempo, seu desenvolvimento e de que temos que ter jogo de cintura para trabalhar com cada uma de maneira especifica. Ficar engessado a um cronograma, ou aos resultados finais do processo, é uma maneira mecanicista e não muito inteligente de se trabalhar, pois vejo o processo pedagógico como a parte mais rica do todo. Infelizmente, muitos coordenadores, diretores e professores mundo afora cobram resultados de maneira cega, vi muito isso quando era professor de História na rede pública de ensino, onde todas as turmas tinham o mesmo conteúdo, as provas que cobravam mais do que deveriam dos alunos, e estes, que muitas vezes (inocentemente) acabavam sendo punidos por incompetências dos profissionais da educação que não refletiam sobre suas práticas e queriam de todas as maneiras impor ritmos sem respeitar os ritmos.
Cada turma têm um ritmo, assim como cada ser também o têm. Creio que devemos ter sensibilidade para cada particularidade, e tomar sempre muito cuidado com as ansiedades e os egos daqueles que querem ver resultados rápidos e como uma qualidade X, sem prestar atenção no Processo.
Não cabe a mim comparar como cada grupo se saiu, taxando o melhor e o pior, pois cada um teve um PROCESSO distinto e rico. Somente estou compartilhando informações dos processos, pois acredito que pode ser útil para alguma reflexão de outrem.
Povo da Periferia (exposição) |
A turma da tarde escolheu a música "Povo da Periferia" de Ndee Naldinho para trabalhar, foi uma escolha "rápida", realizada em duas aulas, depois de algumas discussões, o grupo que havia selecionado 5 músicas, entrou em consenso ao argumentar que a música de Ndee Naldinho representava seus questionamentos.
O perfil da turma da tarde é o perfil de um grupo maduro, que consegue desenvolver debates e discussões bastante aprofundadas e interessantes, foi muito rico o processo de escolher, debater, entrar em consenso e sair às ruas para produzir. O Resultado foi uma série das 20 melhores fotografias (impressas para serem expostas) e um video com uma edição com um número de fotos maior. Veja o vídeo abaixo:
Já a segunda Turma, composta quase que exclusivamente por pré-adolescentes, demorou mais de um mês para escolher algumas músicas e não conseguiram entrar em consenso em uma única música. Infelizmente, eu tive que censurar algumas de suas escolhas, pois simplesmente, algumas das canções tinham refrões como: "Vamos matar policia, matar policia, matar policia" ou citações pornográficas que não correspondiam as idades, entretanto, por mais que minha atitude por um lado foi "moralista", foi também positiva pois discutia e argumentava com eles o porquê tal música não poderia ser utilizada. Entretanto, não tenho dúvidas, que mesmo estas músicas consideradas improprias para pré-adolescentes, dizem muito respeito a Identidade deles.
Todo o processo durou mais de dois meses, e quando comecei a perceber que a turma não conseguiria escolher uma música, tive a ideia de mostrar uma canção de Erasmo Carlos: "Ilegal, Imoral ou Ingorda" que de certa maneira tinha a haver com toda a discussão que havíamos realizado, para minha surpresa, o grupo adorou a música e fizemos o seguinte video:
Para mim, enquanto educador, como já mencionei no começo deste post, estes processos me fizeram reafirmar que cada Turma têm seu tempo, seu desenvolvimento e de que temos que ter jogo de cintura para trabalhar com cada uma de maneira especifica. Ficar engessado a um cronograma, ou aos resultados finais do processo, é uma maneira mecanicista e não muito inteligente de se trabalhar, pois vejo o processo pedagógico como a parte mais rica do todo. Infelizmente, muitos coordenadores, diretores e professores mundo afora cobram resultados de maneira cega, vi muito isso quando era professor de História na rede pública de ensino, onde todas as turmas tinham o mesmo conteúdo, as provas que cobravam mais do que deveriam dos alunos, e estes, que muitas vezes (inocentemente) acabavam sendo punidos por incompetências dos profissionais da educação que não refletiam sobre suas práticas e queriam de todas as maneiras impor ritmos sem respeitar os ritmos.
Cada turma têm um ritmo, assim como cada ser também o têm. Creio que devemos ter sensibilidade para cada particularidade, e tomar sempre muito cuidado com as ansiedades e os egos daqueles que querem ver resultados rápidos e como uma qualidade X, sem prestar atenção no Processo.